Em 1 Coríntios 5.1-13, o apóstolo Paulo pede que a congregação de Corinto expulse de seu meio um pecador manifesto e impenitente e recomenda que ele seja entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia de Senhor. Não será esta uma disciplina diferente da que é prescrita em Mateus 18.15-17?
No texto em questão, o apóstolo Paulo está tratando do caso especifico de um homem que, na congregação de Corinto, se “atrevia a possuir a mulher do seu próprio pai”, ou seja, a sua madrasta. Tal imoralidade, também mencionada em Deuteronômio 22.30, não vinha sendo castigada pela congregação de Corinto. Isso é alvo da critica por parte do apóstolo Paulo, ao mesmo tempo em que ele sentencia que “o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus” e “com o poder de Jesus”, “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor” ( versículos 3, 4 e 5 ). Veja-se bem: não obstante a infâmia cometida na congregação de Corinto e a drasticidade da medida sentenciada pelo apóstolo Paulo, não se perde de vista a salvação da alma do pecador, o que mostra ser esta moralidade igual à de Mateus 18. Mas, como entender as palavras “seja entregue a Satanás para destruição da carne”? A primeira idéia que se tem é que o corpo do pecador morra nas mãos de Satanás para que a sua alma seja salva. Mas não é isso, pois não pode haver salvação da alma, sem que o corpo também seja salvo. Ou, como seria na ressurreição? Sua alma estaria no céu, e o corpo no inferno? Não pode haver salvação para quem morre nas mãos do diabo. Por isso, não é a morte do corpo do pecador que está sendo desejado com essa expressão, mas de sua carne, da pecaminosidade que o domina. Paulo deseja que esse pecador seja retirado de sob o poder de Cristo para que exerça o seu poder sobre ele e o aflija no corpo, fazendo-o sentir, já nesta vida, um prelúdio do inferno, a fim de que isso o leve ao arrependimento e à vida. Vemos, assim, que esta não é uma disciplina diferente da de Mateus 18. A excepcionalidade do pecado referido no texto de 1 Coríntios levou o apóstolo Paulo à expressão de uma linguagem excepcional que não aparece novamente em nenhum outro texto bíblico. Mas o sentido da disciplina eclesiástica normalmente praticada é preservado por Paulo nesse texto: atingir a salvação do pecador.