Em maio de 2024, uma devastadora inundação atingiu o Leste do Rio Grande do Sul, deixando milhares de pessoas desabrigadas e em necessidade urgente de ajuda. Diante dessa situação crítica, a Igreja Evangélica Luterana del Paraguay (IELPA)passou a arrecadar recursos para apoiar os afetados. O pastor e capelão Valdi Dreyer, que também atua como bombeiro voluntário, decidiu ir além e se ofereceu para realizar uma viagem a regiões afetadas com um propósito especial: levar conforto espiritual aos bombeiros e às comunidades afetadas. E o material produzido pela Hora Luterana foi essencial durante essas visitas. A ideia do pastor Valdi surgiu durante conversas com o Comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Naranjal, Capitão Edson Tonelli. “Ele me perguntou: ‘Por que não vai como Capelão?’ Essa pergunta acendeu a chama da missão em mim”, relembra. Com o apoio da comunidade, a viagem foi marcada para o período de 20 a 27 de setembro de 2024.
A Hora Luterana fez uma entrevista com o pastor Valdi. Leia na íntegra:
Respondendo às perguntas da Hora Luterana:
Como foi essa experiência de fazer mais de 3.445 km rodados em 7 dias para entregar material cristão, e por que escolheu todas essas cidades para visitar?
Na intenção de visitar quartéis de bombeiros, especialmente na região afetada pela grande inundação, nos propusemos fazer uma viagem de alguns dias. Não havia uma previsão certa de quais cidades seriam visitadas. Foi uma experiência inédita, única, gratificante e edificante. Em todos os quartéis, tanto de bombeiros voluntários quanto de bombeiros militares, a receptividade foi excelente. Realmente nos sentimos como um deles em cada quartel. Muitos destacaram sua surpresa e gratidão por receber a visita de um bombeiro que lhes trazia uma mensagem cristã e incentivaram que continuássemos fazendo isso.
O que o material da Hora Luterana representa em sua missão de alcançar essas pessoas, principalmente os bombeiros que diariamente estão sob pressão de salvar vidas?
Destacamos algumas frases ditas por bombeiros: “Pastor, os bombeiros tratam com as pessoas nos piores momentos delas – e isso também afeta os bombeiros. É muito importante que eles tenham um suporte espiritual.” (Micahela Mazzacote – Naranjito, PY). “As pessoas pensam que nós, bombeiros, somos de ferro, algo como super-homens, que não têm limitações ou fracassos. Mas nós somos humanos, temos família, ficamos frustrados e deprimidos. Para as autoridades, nós somos apenas um número – ninguém nos perguntou como estávamos, como estava nossa família, se nossa casa também foi inundada.” (Um bombeiro com quem falamos durante a viagem). Os materiais da Hora Luterana são relevantes, breves, úteis e práticos na abordagem dos diversos temas. Estamos pensando na elaboração de um kit, com mais títulos, para servir de apoio aos bombeiros, trazendo-lhes uma mensagem bíblica.
Permitam-nos relatar como foi o pedido e o recebimento do material para essa visitação. Ao contatar o pastor Adelar, da Hora Luterana, pedimos 200 livretos “Coragem Para Tempos Difíceis” (em espanhol, “Fortaleza Para Tiempos Difíciles” – que entregamos a bombeiros, pessoas socorridas e outros que estejam passando por situações difíceis). O pastor Adelar comentou que foram elaborados dois livretos específicos devido à enchente: “Tragédias – consolo em meio à dor”, e um próprio para crianças, “Deus se esqueceu de nós?”, e que também estaria enviando 200 de cada um desses. A nossa surpresa foi, ao colocar o carimbo de CAPELLÁN, que eram 400 exemplares de cada livreto. Assim, tínhamos 1.200 unidades! Ao passar pelo Seminário Concórdia, o professor Leonidio Goerl nos ofereceu os livretos “Prevenção ao Suicídio”, dos quais levamos 50.
Durante esses sete dias, teve alguma história que mais marcou?
Na parte serrana, a prioridade foi intervir nas situações decorrentes dos deslizamentos que ocorreram para, depois, se unirem aos trabalhos de resgate de vítimas das inundações na planície. Bombeiros de todo o Brasil ajudaram no trabalho. Compartilho dois relatos que ouvi de um amigo bombeiro, com quem conversamos em agosto:
UMA FOTOGRAFIA. Durante as buscas em uma cidade devastada, conversávamos com um senhor para obter informações de um vizinho desaparecido. Fomos descendo pelo barro na intenção de encontrar desaparecidos. Em torno de 3 km barro abaixo, vi algo claro no meio da lama; era uma fotografia de casamento – a fotografia do casamento do homem com quem havíamos conversado. Voltei os 3 km barro acima e entreguei a foto ao dono. Ele ficou profundamente emocionado e, chamando a esposa e os filhos, disse que, além da esposa e dos filhos, essa era a única coisa que restou de seu casamento. Para mim, valeu a pena subir aqueles 3 km barro acima novamente…
A BÊNÇÃO DOS ‘AVÓS’. Estávamos em uma equipe de buscas e resgates. Encontramos um casal de idosos, bem idosos. O ancião nos disse: “Vou pedir, não para mim, mas para a minha esposa, se podem ceder de sua água e de seu alimento, pois já estamos aqui há 3 dias sem alimento e sem água.” Então, nós “rasgamos” os protocolos (que dizem que, dentro das primeiras 72 horas desde a tragédia, não se compartilha, nem com os companheiros de equipe, água ou alimento). Entregamos a eles água e bolachinhas em quantidade suficiente para se hidratarem e se alimentarem bem. Antes de seguir, lhes pedi sua bênção. A idosa disse: “Deus os abençoe”, e o idoso nos abençoou fazendo o sinal da cruz em nossa direção. Isso teve um profundo significado para mim. Ganhei o dia, a semana… Jamais esquecerei esse momento. (Bombeiro Voluntário Salatiel Kloss Slongo – Caxias do Sul).
O que significa para o senhor ser um capelão dos bombeiros? E qual a mensagem que pode deixar para incentivar que mais pessoas separem um tempo para fortalecer a vida espiritual uns dos outros?
Gostaria de compartilhar como cheguei a ser capelão bomberil. Em 2011, o então comandante, Capitão Mauro Osvaldo Bogado, perguntou se seria possível fazer um Culto dos Bombeiros em nossa igreja. A resposta imediata foi: Claro que sim! Utilizamos a ideia do Culto de Festa da Colheita. Pedimos aos bombeiros que trouxessem ferramentas, EPIs, incluindo os capacetes de bombeiros, e os dispusemos diante do altar. Elaboramos uma liturgia, escolhemos textos e hinos que pensamos ser relevantes para o dia. Durante alguns anos, fizemos o Culto dos Bombeiros.
Manifestamos ao comandante e ao presidente dos Bombeiros de Naranjal a intenção de exercer capelania bomberil, embora não soubéssemos como fazer isso. Em 2017, pediram, em vez do culto, uma devoção especial para a abertura da Academia de Formação de novos bombeiros, da qual participaram nossos dois filhos, Henrique e Gustavo. No dia 19 de agosto daquele ano (em que celebramos os 500 anos da Reforma), antes de iniciar a devoção, nos entregaram o certificado de nomeação como Capelão do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Naranjal.
Então, com a devida autorização e apoio da Diretoria Paroquial, nos inscrevemos para a próxima Academia de Formação de novos bombeiros (pois queríamos saber o que é ser bombeiro), a qual ocorreu em 2021, sendo que no dia 27 de novembro de 2021, juramos como Bombeiro Voluntário. Com o capelão hospitalar Guinter Alencastro Hervella, de Cascavel, conseguimos materiais sobre capelanias. Os princípios são basicamente os mesmos para as diversas áreas em que os capelães atuam.
Destacamos que chegar a um quartel de bombeiros com uniforme bomberil e identificar-se como Capelão de Bombeiros é como ter a senha de acesso ou a chave da porta na mão. Aos pastores e líderes, sugerimos que se aproximem dos quartéis de sua cidade, levando algum material e colocando-se à disposição para suporte e apoio espiritual. Com certeza, terão grandes e agradáveis surpresas. Todas as pessoas têm necessidade do amor de Deus em Cristo. Deus mantém os Seus filhos aqui no mundo para que levem o Evangelho a todos. O Salvador Jesus quer o salão do Seu banquete eterno plenamente lotado!
Agradecemos à Hora Luterana pelo envio dos materiais indispensáveis para esse desafio.(Capelão Pastor BVC Valdi Dreyer)
Veja algumas imagens!
