Nunca foi intenção de Lutero fundar uma nova igreja. Seu estudo da Bíblia o convenceu de que muita coisa ensinada pela igreja do seu tempo era de invenção humana. Lutero desejava que a igreja parasse de ensinar esses erros e retornasse à doutrina pura, conforme ensinada por Cristo e seus apóstolos. Mas os líderes da igreja achavam que ela nunca poderia errar. Por conseguinte, concluíram que Lutero devia ser um falso mestre e não lhe deram ouvidos. Seus inimigos espalharam mentiras acerca dele, o papa o excomungou, e pelo Edito de Worms, o Santo Imperador Romano o declarou proscrito. Ainda que não desejasse que as coisas fossem assim, Lutero estava agora fora da igreja de Roma. Muita gente cria que Deus tinha falado poderosamente através de Martinho Lutero. Eles se arriscavam a receber castigos por lerem seus escritos e ouvirem seus sermões. Grande parte da Alemanha setentrional queria que ele se tornasse seu líder. O senso de dever e a devoção de Lutero às verdades da Palavra de Deus não permitiriam que ele fizesse pouco caso das necessidades desse povo, permitindo que voltassem aos seus velhos modos de adoração. Uma nova comunidade religiosa teria de ser erigida. A despeito das objeções de Lutero, o povo passou a chamá-la de “Igreja Luterana”.
A pedra angular desta nova igreja era a Bíblia. A Caetano, Miltitz e Eck, Lutero havia dito: “Convençam-me com base na Escritura”. Na Dieta de Worms, ele permaneceu firme, declarando: “Minha consciência está cativa à palavra de Deus”. Para Lutero, então, a palavra de Deus era a mais alta autoridade – superior aos decretos dos papas ou dos concílios, superior à tradição ou aos escritos dos pais eclesiásticos. Além disso, Lutero acreditava que Deus pode e fala diretamente ao coração do homem através das Escrituras. Se a igreja cristã está alicerçada na palavra de Deus, que opera nos corações e nas vidas dos homens – pensou Lutero – o povo precisa de Bíblias em sua própria língua. Ele traduziu o Novo Testamento para o alemão enquanto estava no castelo de Wartburgo, em 1521. Com a ajuda de eruditos em hebraico da Universidade de Wittenberg, ele completou a tradução do Antigo Testamento em 1534. Ainda que o preço da Bíblia alemã de Lutero, completa, fosse o equivalente a 20 dólares (atualmente), a procura por parte do povo era imensa. Foram vendidas mais de um milhão de cópias nos 12 anos seguintes.
Em 1528, Lutero visitou o número crescente de igrejas luteranas na Saxônia. Ali descobriu que as coisas não estavam indo muito bem. Por toda parte havia formas diferentes de culto e prática eclesiástica. Muita gente, inclusive muitos pastores, conhecia pouquíssimo de doutrina cristã. Alguns nem mesmo eram capazes de orar o Pai Nosso ou recitar os Dez Mandamentos. Como orientação, estas igrejas novas necessitavam de uma declaração simples e clara daquilo em que criam. Lutero preencheu esta necessidade em 1529, escrevendo dois catecismos. Ele escreveu o Catecismo Maior para pastores e pessoas adultas. Os pastores liam partes deles às suas congregações e o empregavam no preparo de sermões. Lutero escreveu também o Catecismo Menor, especialmente para as crianças. Nele, Lutero procurou explicar as seis “partes principais” da doutrina cristã numa linguagem simples e clara. Nisso ele foi extremamente bem-sucedido. Por exemplo, é difícil encontrar-se uma confissão de fé mais bela do que a sua explanação do Segundo Artigo do Credo Apostólico: Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e também verdadeiro homem, nascido da virgem Maria, é meu Senhor, pois me remiu a mim, homem perdido e condenado, me resgatou e salvou de todos pecados, da morte e do poder do diabo; não com ouro ou prata, mas com o seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte, para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança, assim como ele ressuscitou dos mortos, vive e reina eternamente. Isto é certamente verdade.